Friday, August 29, 2014

CABO VERDE TERRA MINHA! – TESTEMUNHO DE UM HÓSPEDE



CABO VERDE TERRA MINHA! – TESTEMUNHO DE UM HÓSPEDE
                        Por Issah Hassan Tikumah

27 de Agosto de 2014, farão quatro anos desde que desembarquei  na terra abençoada de Cabo Verde, caindo do meio do céu da Praia. Eu tinha sido expulso da Nigéria devido a publicação de um livro intragável. Tendo tido o meu passaporte Ganês apreendido pelas autoridades nigerianas, e correndo pela minha querida vida, entrei em Cabo Verde pela porta de trás. Minha expectativa nervosa de ser maltratado pela polícia cabo-verdiana, devido ao facto de entrar no seu país de uma maneira antiética, encontrou total desapontamento. E esta foi o meu primeiro sabor da magnanimidade de Cabo Verde.

As autoridades cabo-verdianas não concederam oficialmente meu pedido de asilo, mas também não me expulsaram do país. No entanto, não tendo nenhum contato prévio com Cabo Verde, nem um escudo no meu bolso, e ser um analfabeto da língua portuguesa, fizeram a situação parecer o fim do mundo para mim. Por vários meses, continuei a flutuar sobre as águas turvas da precariedade. Então os meus olhos de repente avistaram um navio de resgate navegando ao longe. O navio poderia ser reconhecido pelos raios que irradiam da benevolência do seu capitão - um grande coração num pequeno e belo corpo. Pouco antes de eu desistir, pensando que finalmente estaria prestes a afogar, fui levantado para o gracioso navio. Olhei no casco do navio e vi o seu nome - CNDHC.

Como um jacaré de conhecimento, eu somente poderia sentir-me confortável nas águas profundas de aprendizagem. Como tal, a CNDHC finalmente deixou-me no oceano fresco da Uni-CV, a cidadela de excelência intelectual no país. Da torre alta de inquiridor informado da Uni-CV, agora podia alimentar meus olhos famintos no esplendor da entidade cabo-verdiana - a sua paisagem e seu povo.
Cabo Verde - a terra da ausência absoluta de presença de monotonia. Rica em montanhas e vales, colinas e encostas, cores e tons, gostos e impressões, a terra constantemente mantém o apetite do candidato vivo. O caminhante, por exemplo, é prontamente presenteado com a descida antes de se entediar com a subida; e a subida antes se cansar com a descida. Cada dia do ano, as ondas generosas do mar iluminado da terra provê mais de cinquenta espécies diferentes de peixes saborosos e saudáveis - dos quais Cavala, Catchoreta e Barbeiro são os meus favoritos. E assim são as lindas pessoas da terra: completamente preto - quase preto - quase branco - completamente branco.

Os Cabo-verdianos podem não ter milhões em dinheiro, mas têm triliões em paciência e tolerância. Por exemplo, em toda a minha experiência em todo o mundo, e não apenas na África, Cabo Verde é o único lugar onde um/a motorista iria parar de repente o seu carro no meio de uma estrada movimentada, por um minuto de conversa com um amigo que passa, enquanto uma dúzia de outros motoristas esperam por trás calmamente. Em outro lugar, isso não seria tentado, pois o infrator seria logo espontaneamente bombardeado com pragas impiedosas ​​e insultos grosseiros de vulcões em erupção nos peitos dos camaradas.

Num estudo de 2006, Bruce Baker de Oxford referiu a Cabo Verde como "o país mais democrático em África"​​. Eu gostaria de retorquir dizendo que Cabo Verde não é apenas o país mais democrático em África, mas também a única de verdadeira democracia em África, pois Cabo Verde é o único país da África onde a democracia não é um jogo de fanatismo étnica. Cabo Verde deve a sua invejável paz e estabilidade à ausência do fardo de tribalismo que tem mantido o resto da África em ebulição desde a independência política da Europa há mais de meio século atrás. Como eu costumo dizer aos meus alunos e colegas cabo-verdianos, na medida em que Cabo Verde está livre do sentimento venenoso do tribalismo, Cabo Verde é um modelo perfeito da África que aspiramos. Gostaria de salientar, contudo, que o maior desafio para a liderança cabo-verdiana é assegurar que o fanatismo provincial (Preconceito Badio-Sampadjudo) não transforme gradualmente num tribalismo alternativo para Cabo Verde eventualmente. Isto é o que, na minha opinião, a liderança deve essencialmente boa parte à história e à posteridade desta grande nação.

Eu discordo totalmente daqueles que normalmente comparam Cabo Verde com os seus vizinhos e a pronunciam como uma nação pobre, carente de recursos naturais - a menos que tais analistas me possam explicar que a riqueza natural sem paz natural tem qualquer sentido significativo. Se por acaso tiver de concordar com eles, então eu vou ter que referir a Cabo Verde como um pobre anão brilhante cercado por ricos gigantes sem luz. Aqui, a luz da humanidade e integridade contrasta com a melancolia de ganância e corrupção. É melhor ser pobre em petróleo e gás, mas rico em integridade, do que ser o contrário.

Cabo Verde pode não ser rico em ouro e diamantes, mas é rico em liderança. Cabo Verde é o único país da África, onde se entra numa padaria comum e se encontra um ministro de Estado - Antonio Correia e Silva - na fila juntamente com os cidadãos comuns para comprar pão comum. Cabo Verde é o único país da África onde o presidente iria partilhar uma casa simples, como um inquilino, com pessoas comuns num apartamento de bloco comum. Cabo Verde é o único país da África, onde o Chefe de Estado iria embaralhar com pessoas comuns dentro de um bar comum para uma xícara de café comum. A primeira vez que vi o Jorge Carlos de Almeida Fonseca entrar no Pão Quente em Várzea, há dois anos, eu fiquei atordoado. Como que a confirmar que os meus olhos não me estavam enganando, eu fui até ele e gritei na cara dele 'Ó Presidente! "Tudo Bom?", O presidente respondeu-me com um aperto de mão. Todo hipnotizado para dizer qualquer coisa, eu saí sem responder a saudação do presidente. Mas o meu fascínio só aumentou ainda mais quando eu fui lá fora e descobri que a cena era tão comum como sal e água, com nenhuma indicação de que havia uma pessoa importante nas proximidades. Em outro país Africano todas as quatro direções para o bar serão bloqueadas ao tráfego humano e de veículos motorizados horas antes da chegada do presidente ao local e a cena será muito fortemente policiado para o conforto de uma alma comum. (A questão é mesmo esta: Em primeiro lugar, num outro país Africano, o que o todo-poderoso presidente estaria fazendo num "lugar ignóbil"?)

 Em poucas palavras, Cabo Verde é o único país da África onde ninguém é ninguém, mas ao mesmo tempo todo mundo é alguém. Eu amo este país chamado Cabo Verde, a terra da beleza natural, a terra de compaixão humana, a terra de variedade infinita. Na verdade,
              CABO VERDE, TERRA MINHA
              EU TE AMO COMO A MINHA MÃE!

Nota: Issah Hassan Tikumah, um cidadão Ganês, é professor no Departamento de Inglês na Universidade de Cabo Verde. Este artigo foi traduzido para Português por Carlos Manuel da Silva Monteiro. O texto original era rico em expressões figurativas e foi feito um esforço para traduzi-lo literalmente.

1 Comments:

Blogger Unknown said...

Once my professor, always my professor. Proud of you

June 11, 2019 at 7:04 PM

 

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