CABO VERDE TERRA MINHA! – TESTEMUNHO DE UM HÓSPEDE
CABO
VERDE TERRA MINHA! – TESTEMUNHO DE UM HÓSPEDE
Por Issah Hassan Tikumah
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de Agosto de 2014, farão quatro anos desde que desembarquei na terra abençoada de Cabo Verde, caindo do
meio do céu da Praia. Eu tinha sido expulso da Nigéria devido a publicação de
um livro intragável. Tendo tido o meu passaporte Ganês apreendido pelas
autoridades nigerianas, e correndo pela minha querida vida, entrei em Cabo
Verde pela porta de trás. Minha expectativa nervosa de ser maltratado pela
polícia cabo-verdiana, devido ao facto de entrar no seu país de uma maneira
antiética, encontrou total desapontamento. E esta foi o meu primeiro sabor da
magnanimidade de Cabo Verde.
As
autoridades cabo-verdianas não concederam oficialmente meu pedido de asilo, mas
também não me expulsaram do país. No entanto, não tendo nenhum contato prévio
com Cabo Verde, nem um escudo no meu bolso, e ser um analfabeto da língua
portuguesa, fizeram a situação parecer o fim do mundo para mim. Por vários
meses, continuei a flutuar sobre as águas turvas da precariedade. Então os meus
olhos de repente avistaram um navio de resgate navegando ao longe. O navio
poderia ser reconhecido pelos raios que irradiam da benevolência do seu capitão
- um grande coração num pequeno e belo corpo. Pouco antes de eu desistir,
pensando que finalmente estaria prestes a afogar, fui levantado para o gracioso
navio. Olhei no casco do navio e vi o seu nome - CNDHC.
Como
um jacaré de conhecimento, eu somente poderia sentir-me confortável nas águas
profundas de aprendizagem. Como tal, a CNDHC finalmente deixou-me no oceano
fresco da Uni-CV, a cidadela de excelência intelectual no país. Da torre alta
de inquiridor informado da Uni-CV, agora podia alimentar meus olhos famintos no
esplendor da entidade cabo-verdiana - a sua paisagem e seu povo.
Cabo
Verde - a terra da ausência absoluta de presença de monotonia. Rica em
montanhas e vales, colinas e encostas, cores e tons, gostos e impressões, a
terra constantemente mantém o apetite do candidato vivo. O caminhante, por
exemplo, é prontamente presenteado com a descida antes de se entediar com a
subida; e a subida antes se cansar com a descida. Cada dia do ano, as ondas
generosas do mar iluminado da terra provê mais de cinquenta espécies diferentes
de peixes saborosos e saudáveis - dos quais Cavala, Catchoreta e Barbeiro são
os meus favoritos. E assim são as lindas pessoas da terra: completamente preto
- quase preto - quase branco - completamente branco.
Os
Cabo-verdianos podem não ter milhões em dinheiro, mas têm triliões em paciência
e tolerância. Por exemplo, em toda a minha experiência em todo o mundo, e não
apenas na África, Cabo Verde é o único lugar onde um/a motorista iria parar de
repente o seu carro no meio de uma estrada movimentada, por um minuto de conversa
com um amigo que passa, enquanto uma dúzia de outros motoristas esperam por
trás calmamente. Em outro lugar, isso não seria tentado, pois o infrator seria
logo espontaneamente bombardeado com pragas impiedosas e insultos grosseiros
de vulcões em erupção nos peitos dos camaradas.
Num
estudo de 2006, Bruce Baker de Oxford referiu a Cabo Verde como "o país
mais democrático em África". Eu gostaria de retorquir dizendo que Cabo
Verde não é apenas o país mais democrático em África, mas também a única de verdadeira
democracia em África, pois Cabo Verde é o único país da África onde a
democracia não é um jogo de fanatismo étnica. Cabo Verde deve a sua invejável
paz e estabilidade à ausência do fardo de tribalismo que tem mantido o resto da
África em ebulição desde a independência política da Europa há mais de meio
século atrás. Como eu costumo dizer aos meus alunos e colegas cabo-verdianos,
na medida em que Cabo Verde está livre do sentimento venenoso do tribalismo,
Cabo Verde é um modelo perfeito da África que aspiramos. Gostaria de salientar,
contudo, que o maior desafio para a liderança cabo-verdiana é assegurar que o
fanatismo provincial (Preconceito Badio-Sampadjudo) não transforme gradualmente
num tribalismo alternativo para Cabo Verde eventualmente. Isto é o que, na
minha opinião, a liderança deve essencialmente boa parte à história e à
posteridade desta grande nação.
Eu
discordo totalmente daqueles que normalmente comparam Cabo Verde com os seus
vizinhos e a pronunciam como uma nação pobre, carente de recursos naturais - a
menos que tais analistas me possam explicar que a riqueza natural sem paz
natural tem qualquer sentido significativo. Se por acaso tiver de concordar com
eles, então eu vou ter que referir a Cabo Verde como um pobre anão brilhante
cercado por ricos gigantes sem luz. Aqui, a luz da humanidade e integridade
contrasta com a melancolia de ganância e corrupção. É melhor ser pobre em
petróleo e gás, mas rico em integridade, do que ser o contrário.
Cabo
Verde pode não ser rico em ouro e diamantes, mas é rico em liderança. Cabo
Verde é o único país da África, onde se entra numa padaria comum e se encontra
um ministro de Estado - Antonio Correia e Silva - na fila juntamente com os
cidadãos comuns para comprar pão comum. Cabo Verde é o único país da África
onde o presidente iria partilhar uma casa simples, como um inquilino, com
pessoas comuns num apartamento de bloco comum. Cabo Verde é o único país da
África, onde o Chefe de Estado iria embaralhar com pessoas comuns dentro de um
bar comum para uma xícara de café comum. A primeira vez que vi o Jorge Carlos
de Almeida Fonseca entrar no Pão Quente em Várzea, há dois anos, eu fiquei
atordoado. Como que a confirmar que os meus olhos não me estavam enganando, eu
fui até ele e gritei na cara dele 'Ó Presidente! "Tudo Bom?", O
presidente respondeu-me com um aperto de mão. Todo hipnotizado para dizer
qualquer coisa, eu saí sem responder a saudação do presidente. Mas o meu
fascínio só aumentou ainda mais quando eu fui lá fora e descobri que a cena era
tão comum como sal e água, com nenhuma indicação de que havia uma pessoa importante
nas proximidades. Em outro país Africano todas as quatro direções para o bar serão
bloqueadas ao tráfego humano e de veículos motorizados horas antes da chegada
do presidente ao local e a cena será muito fortemente policiado para o conforto
de uma alma comum. (A questão é mesmo esta: Em primeiro lugar, num outro país
Africano, o que o todo-poderoso presidente estaria fazendo num "lugar
ignóbil"?)
Em poucas palavras, Cabo Verde é o único país
da África onde ninguém é ninguém, mas ao mesmo tempo todo mundo é alguém. Eu
amo este país chamado Cabo Verde, a terra da beleza natural, a terra de
compaixão humana, a terra de variedade infinita. Na verdade,
CABO VERDE, TERRA MINHA
EU TE AMO COMO A MINHA MÃE!
Nota:
Issah Hassan Tikumah, um cidadão Ganês, é
professor no Departamento de Inglês na Universidade de Cabo Verde. Este artigo
foi traduzido para Português por Carlos Manuel da Silva Monteiro. O texto
original era rico em expressões figurativas e foi feito um esforço para traduzi-lo
literalmente.
1 Comments:
Once my professor, always my professor. Proud of you
June 11, 2019 at 7:04 PM
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